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Trivial e Singular

Um blog simples e único sobre as trivialidades e singularidades da (minha) vida

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Parto de amor

Já se passaram quase três meses, mas com frequência dou por mim a pensar no dia do parto, nas difíceis horas que lhe antecederam e no momento em si. Falo pouco sobre este assunto, mas recordo-o muitas vezes. Na fase inicial, as visitas questionaram-me bastante sobre este tema, se foi um parto normal, se foi instrumentado, se durou muito tempo, se levei epidural, e blá-blá-blá. Aquelas questões mais básicas e práticas sobre o assunto. Apesar de responder, acho que nunca falei com ninguém sobre o que realmente senti e vivi. Talvez com o meu marido já o tenha feito.

 

 

Quando penso no parto experiencio sentimentos contraditórios. Por um lado, o meu corpo sente um arrepio, uma dor latente, da qual quer fugir e não consegue, mas ao mesmo tempo enche-se de orgulho e alegria por o que foi aquele momento. Confesso que foi doloroso. Mais do que esperava. Foi longo. Mais do que desejava. Ao contrário do que sempre ouvi quando era mais nova, as dores não desapareceram logo que coloquei os olhos sobre o bebé. Não se tornou tudo mágico e perfeito. Continuei a ter dores e precisei de cuidar daquele bebé que precisava tanto de mim. Durante esta fase dolorosa do pós-parto dei por mim a pensar em segredo e baixinho, não fosse alguém ouvir e julgar-me, “porque é que o amor que sinto não se sobrepõe às dores do meu corpo?”, “porque é que está a ser tão difícil? Doloroso?”, “será que não o amo o suficiente?”, “será que não sou boa mãe?”. Agora com a distância de quase três meses, tenho noção de que dificilmente o parto será um conto de fadas, sem dor e sofrimento, mas também já percebi que com o afastar desta dor, me vou conseguindo focar mais no que realmente foi aquele momento. Tão único. Tão especial. Tão íntimo. Tão só meu, do meu marido e do meu filho. Quando penso no parto, não consigo deixar de refletir sobre a magia que aconteceu naquele bloco de partos, sobre o milagre da vida. Num momento eramos só dois e a seguir eramos três, uma família. Uma nova família. A minha família. O que vivi naquele quarto é algo indescritível. Tudo o que senti foi tão especial.

 

O meu marido esteve presente desde o primeiro minuto, assistiu e participou em todas as fases. Esteve à altura do desafio. Nunca vacilou. Eu sei que lhe deve ter custado horrores ver-me a sofrer. Sei que se pudesse teria trocado de lugar comigo e sofreria as minhas dores. Ele esteve lá, apoiou-me, ajudou-me, amparou-me, esteve sempre disponível para tudo o que eu precisei. E foi tão bom. Eu estava assustada. A experiência era nova. Apesar das aulas de preparação para o parto, não sabia como tudo iria acontecer. Ter lá a companhia do meu marido foi especial, foi único. Acredito mesmo que é um momento singular na relação de um casal. Acredito que é preciso muito amor e união para que o casal possa viver esta experiência em conjunto. É um momento em que a mulher está literalmente despedida de todas as suas defesas, desprotegida e vulnerável. É fundamental que sinta total confiança e amor em que a está a auxiliar. E nisso o meu marido foi exímio. Nunca irei esquecer o frio que ele passou naquela noite, o ter dormido numa cadeira desconfortável, ter-me ajudado a trazer o nosso filho ao mundo. Tudo isso será para sempre só nosso. E para sempre será só nosso também a primeira vez que vimos o nosso filho. Ele chegou vermelho. A chorar, com uma boca enorme e foi de imediato colocado no meu colo. E calou-se, apaziguou. E naquele momento, eu nem estava a acreditar que o meu filho, aquele ser que eu desejei tanto e que carreguei durante 41 semanas, estava finalmente no meu colo. Aquela criança que eu tanto imaginei tinha agora um rosto, feições, cor, cheiro, e era perfeito. Tão perfeito, tão bonito. Foi um alívio, foi uma alegria como nunca tinha sentido. Foi fantástico ter assistido aos seus primeiros momentos de vida. Vê-lo calmo no colo do pai, que pegava nele com um à vontade que eu não esperava. Senti-lo pela primeira vez a mamar. Vê-lo a espirrar. A abrir os olhos. A dormir. A espreguiçar-se. Ai, todos estes momentos foram tão bons e especiais. Espero que a minha memória nunca me atroçoe e me permita para sempre recordar e sentir o que foi aquele parto. Um momento repleto de amor, de descoberta e partilha. Apesar da dor, viveria tudo novamente.

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