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Trivial e Singular

Um blog simples e único sobre as trivialidades e singularidades da (minha) vida

Trivial e Singular

Um blog simples e único sobre as trivialidades e singularidades da (minha) vida

Ser empregada ou patroa?

Cresci a sofrer as consequências de ter um pai com negócio próprio. Sendo uma área de trabalho com maior fluxo no verão, desde muito nova me habituei a ter os meus pais ocupados nos meses de verão e aos fins-de-semana. Consequência? As minhas recordações do verão são de férias passadas em casa, de pouco passeio e de muito stress associado. Cresci a achar que ter um negócio próprio é algo que dá muito trabalho, exige demasiado do próprio, é ingrato e rouba tempo à família. Senti muitas vezes que as obrigações profissionais se sobrepuseram às necessidades das filhas. Soube sempre o que era ter um pai sem tempo para as filhas. Quando havia tempo já não havia paciência. Na fase final do secundário passei por aquela “pressão” de ter de tomar uma decisão em relação a ficar com o negócio do meu pai ou escolher um caminho diferente. Eu trabalhava no verão com no negócio do meu pai, sabia cumprir as funções, embora não dominasse todas as áreas e até tinha jeito, mas não gostava. Nunca gostei. Para mim, aquele trabalho foi sempre sinónimo de stress e ansiedade. Provavelmente, em circunstâncias diferentes até acharia que aquela oportunidade de negócio era boa, mas pela experiência direta e indireta que tinha, não o conseguia ver desta forma. Optei por seguir o meu próprio caminho. Tirei o meu curso com sucesso e tive a sorte e competência de ter conseguido trabalhar sempre na área de formação e de ter reconhecimento. No entanto, ainda não se passaram 10 anos e eu já me sinto insatisfeita.

Gosto do que faço, mas sei que não quero fazer isto toda a vida. O que faço constitui sempre um desafio, mas preciso de desafios diferentes, noutras áreas e de outros conteúdos. Sou reconhecida pelos pares como sendo competente, mas isso não me chega. Sempre me reconheci como sendo ambiciosa e neste momento (aliás, já há alguns anos) sinto que parei. Dentro da minha especialização tenho sempre atividades desafiantes e cada vez mais complexas, mas preciso de mais. E preciso seguramente de duas coisas que não atenho atualmente. A perspetiva de carreira e de melhor recompensa financeira. 

Quanto à primeira, sinto que na minha profissão a experiência fará de mim cada vez melhor profissional e contribui para maior reconhecimento, mas não estou a antever um crescimento em termos de novos cargos e funções, imagino passarem mais 10 anos e eu a fazer mais do mesmo, o que me gera pânico e frustração. Quanto à segunda, acho que apesar de me queixar sou uma privilegiada. Trabalhei até há muito pouco tempo a recibos verdes, o que me frustrava, mas desafiava. Há algum tempo passei a contrato e conheci recentemente a experiência de receber um subsídio de férias (uau, uma novidade aos 32 anos). Recebo um ordenado acima da média nacional e trabalho num horário que corresponde ao número de horas de trabalho parcial, ou seja, ganho muito bem para as horas que trabalho, já para não falar da flexibilidade de horário (que no meu caso joga contra mim porque eu tenho de respeitar os horários daqueles com quem trabalho). Apesar das boas condições monetárias, a verdade é que o que ganho não é suficiente para a vida que quero e, na verdade, eu não quero assim tanto. Nunca vivi tão preocupada com o dinheiro como agora, talvez porque passei a ser mãe, mas preocupo-me sempre que abro a carteira. Questiono-me sempre se estarei a gastar demasiado, se preciso mesmo daquilo, se será melhor comprar agora ou depois. A verdade é que viver é caro, cada vez mais percebo isso e sinto-me assustada. Agora compreendo porque é que os meus pais trabalharam tanto, gozaram tão pouco e nunca enriqueceram. Na verdade, para nos dar o que nós precisávamos era preciso bastante dinheiro e eu, mais do que nunca, penso muitas vezes se terei um dia dinheiro para dar aos meus filhos tudo o que os meus pais me deram a mim.

Por tudo isto, cada vez mais, eu e o meu marido desejamos ter um negócio próprio. Claro que estamos conscientes das dificuldades e das implicações que tem no tempo para a família, mas parece-nos cada vez mais a solução. Já percebi que de pouco serve queixar-me ou esticar o salário, é mais eficiente se eu mudar o input no outro lado da balança. Demorei algum tempo a perceber isto. Sempre pensei que se gerisse melhor o output a balança poderia tombar para o lado mais positivo, mas cada vez mais compreendo que as despesas estão sempre a aumentar e nunca vou conseguir viver tranquilamente, gastando o necessário e poupando o desejável, a não ser que ganhe mais. Desta forma, a busca “pelo negócio” tem sido um objetivo de vida e não tem sido fácil. Entre ideias, pesquisas, planos de negócio, estratégias de mercado,.. entre tantas outras variáveis, a verdade é que já nos dedicamos a tantos projetos diferentes e ainda nenhum saiu do papel. Que frustração. Mas ainda não desistimos e vamos continuar a tentar. Como diz o meu marido empreendedor rima com dor e cada vez mais compreendo isso.

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