Como escolher um curso superior? Razão ou emoção?
Contacto com frequência com jovens que se sentem confusos quanto às opções vocacionais que têm para realizar. Não é uma realidade anormal, se pensarmos que míudos de 14/15 anos têm de escolher a área de estudos na passagem do 9º ano para o 10º ano. Se há pessoas que desde pequenas sabem (ou pensam que sabem) o que querem para o futuro, há aquelas que já quiseram ser muitas coisas, mas que na hora H têm medo de decidir e não querem coisa nenhuma. Menos frequente, são os casos daquelas que são boas em muitas áreas, gostam das várias opções e não sabem como escolher. Depois desta primeira escolha, a 2ª acontece no final do 12º ano. A grande maioria dos jovens que está indeciso, sabe apenas que quer prosseguir com os estudos. É pouco frequente a dúvida entre continuar a estudar ou não, quem não quer estudar geralmente está muito decidido quanto a essa questão. Nesta fase, os jovens já frequentaram uma área de estudos e já se encontram de algum modo limitados nas opções que podem fazer, devido às disciplinas de acesso ao ensino superior e também pelas médias que têm. Infelizmente, isto acontece muitas vezes. Não são os jovens a escolher os cursos que querem seguir, mas antes a média que conseguiram com o ensino secundário e com os exames nacionais a fazê-lo.
Quando se fala em escolher o curso superior, é inevitável refletir sobre a velha questão. Como escolher? Devo optar pela área que gosto (ou que penso que gosto) ou por uma área que esteja associada a maior empregabilidade? Neste momento, a realidade Portuguesa, com a baixa empregabilidade que têm os jovens licenciados, quase resolve esta questão por eles. Há poucos cursos associados a elevada empregabilidade. Ainda assim, há aqueles que claramente são sinónimos de desemprego efetivo, há já alguns anos e muito provavelmente no futuro também. Ver um jovem escolher um curso destes é como vê-lo suicidar-se, mas quando as pessoas querem mesmo fazê-lo não há muito a fazer. Com frequência vêm com a conversa do "mas se formos muito bons, conseguimos sempre emprego", pois, eu tenho sérias dúvidas. Até é possível, que sendo bons ou muito bons consigam algo semelhante a um trabalho, mas se se trata de uma área sobrelotada e com baixos índices de empregabilidade dificilmente será possivel conseguir um trabalho com condições adequadas, satisfatórias e bem remunerado.
Apesar de esta questão já ser velhinha, parece-me que não é dada a importância adequada à mesma. Quer por parte das escolas, como dos pais. Frequentemente, as famílias esperam respostas de testes vocacionais, que não são mais do que testes de preferências, de interesses e que pouca informação relevante dão. A verdadeira descoberta tem de vir do próprio e deve resultar de um processo amadurecido de pesquisa e reflexão sobre si mesmo e as opções que o mercado tem para oferecer. No entanto, pelo que vejo, isto poucas vezes acontece, especialmente em quem mais precisa - os que têm dúvidas e não sabem o que querem para o futuro. Parece-me muitas vezes que querem continuar sem saber e que preferem que alguém decida por eles. É frequente encontrar pessoas que estão a concluir licenciaturas e que dizem "se fosse agora não vinha para este curso", ou que estão formadas e não se sentem realizadas com a área que escolheram. Já para não falar daqueles passam anos a trocar de cursos e depois acabam por fazer algum ou nenhum. Se há jovens que vivem isto com alguma leviandade, a verdade é que para outros isto é uma grande fonte de sofrimento. É assustador aos 30 anos perceber que não se está formado ou a trabalhar na área que realmente gostaria de trabalhar, quando se percebe que se fez a escolha errada. Claro, que com 30 anos ainda se é novo, mas também já não se é tão jovem para abandonar tudo e recomeçar. Depois há aqueles que se arrependem de terem optado pelo que gostavam porque a área não oferece as condições de vida que gostariam e ficam a assistir ao sucesso dos outros, mas por algum motivo é dificil mudar o percurso e recuar ou abandonar. Acho que já todos conhecerem pessoas nesta situação.
Mas e quando conhecemos alguém que é e sempre foi bom aluno, que gosta de várias áreas, que está a estudar num curso de prestígio e de maior empregabilidade, mas que sente que esse pode não ser o seu caminho. Como decidir? Como tomar a decisão de abandonar um curso que oferece emprego e reconhecimenro, por um outro cujas expetactativas são menos positivas? Será uma opção adequada? Será racional ou emocional? Dever-se-à ir em frente, caminhar no sentido das boas condições de vida em troca da insatisfação e frustração? Mas, e se a troca de cursos resultar no futuro em empregabilidade precária e condições de vida menos favoráveis, como é que se vive com a escolha passada de ter trocado o certo pelo incerto? Conseguirá a satisfação com a área de trabalho sobrepôr-se à falta de dinheiro, à precaridade, às condições menos aliciantes? É uma situação muito delicada. Infelizmente, existe quem esteja nesta situação. Imagino que aqui a dúvida, a angústia e o medo sejam muito superiores àqueles que se vivem no 9º e 12º anos. O que fazer? Como gerir?